domingo, 26 de maio de 2013

A capela

- É preciso da chuva para poder florir. É uma pena que as vezes só é com uma chuva que aprendemos a florir, e as vezes a florada é tão rápida, tão efêmera como a beleza das coisas que nem nos damos conta! - dizia a velha senhora à Sofia em um jardim repleto de margaridas ao lado de uma capela.
- E a vida? Replicou Sofia. Estou sentindo a vida como areia em minhas mãos. Uma réstia de vida é o que sobra, ela parece tão efêmera.
- Olhe as suas mãos, ainda há areia nelas. Se você segurá-las firme terá a areia porquanto puder aguentar segurá-la. E mesmo assim, sua mão continuará suja, marcada, é a vida que tivemos e levamos conosco. Se você lavar as mãos, a vida passa, e nada fica. Não lave as mãos agora, Sofia, segure a areia até achar uma ampulheta.
- Não entendo. O que é a ampulheta?
- O tempo. Entregue a areia somente a ele, o quanto for. No final da vida, vemos o quanto ele foi nosso amigo. Apenas não percebemos.
- Tenho medo da morte.
- Enquanto houver areia na ampulheta, enquanto houver vida, viva. Não há o que temer, Sofia.
Sofia arranca uma margarida do jardim. Nesse momento ela percebe que a margarida só tem um destino: morrer. A senhora se coloca no lugar da margarida e da areia do jardim presa àquela flor, ambas ainda vivem nas mãos de Sofia, que já não tem mais medo pois, a capela estava ao seu lado.


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